quarta-feira, 11 de abril de 2012


Aguardente.

Mesmo no paraíso dos amantes há dias de fúria.

Hoje, quando Fugu me beija, deixo de lado a candura e devoro sua língua. E deslizo minha boca pelo seu peito, mordo seus pelos e ouço seu suspiro.

Ao contrário de sempre, não sorrio. Em vez de passar lábios delicados e provocantes pelo seu pau, afasto a cabeça e me limito a observar enquanto ele se ergue aflito. Vejo seu rosto relaxado seus olhos cerrados, a boca semiaberta num quase sorriso.

Fugu, ainda não sabe.ainda espera minha caricia dócil. No entanto, com a mão direita espalmada, acomodo a parte baixa de seu saco entre o indicador e o polegar da minha mão direita e junto as pontas dos dois dedos com firmeza.

O susto que atravessa seu rosto não desfaz a confiança com a qual ele se entrega. Nem assim, tão preso e vulnerável, se debate. O pau desenha uma esplêndida ereção, aproximo a glande da minha boca e a puxo para dentro com um movimento decidido.

Nessa hora, Fugu é meu. Entregue, desprotegido, a alma em carne viva, ele é só seu pau, e seu pau é todo meu. Aperto os dedos no mesmo ritmo acelerado que imprimo à boca. Uso o polegar da outra mão para deslizar com segurança sobre o tendão que vai da sua glande até seu cu. É o cordame que enfuna suas velas. É o nervo dos ventos e tempestades. É por ali que conduzo minha nau, que fabrico rotas invisíveis sobre o oceano.

Agora sim, sou senhora dos seus mares. Sou a corsária que rouba o mapa do seu tesouro. A pirata que vai fazer sua vida se esvair em água. Quando seu pau da o primeiro soluço, aperto os dedos e conduzo a primeira onda ao céu da minha boca. Assim, uma após outra em vagas cada vez mais altas, em gritos cada vez mais fortes. Até que eu beba sua vida transformada na espuma que sobrou da ressaca.

Sorrio.

Fugu ainda geme. Seus dedos de gaivota desarrumam meu cabelo. Sobrevivente da minha raiva, novamente senhor dos seus caminhos, levanta-se em passos trôpegos, pega na cabeceira uma caipirinha de tamarindo bem forte.

Ainda há muito o que arder nessa noite.

Caipirinha de Tamarindo.

Noites assim são cítricas, ácidas. E pedem bebidas de igual teor. Minha preferida é a caipirinha (ou sua variante, acaipiroska). Como rega pessoal (uso cachaça de boa qualidade, por favor) com frutas ácidas e vodca (idem) com as mais doces.

Cachaça é imbatível com limão, maracujá, caju (céus, como é fantástica essa mistura), tamarindo, pitanga, kiwi, tangerina e uva.

Vodca simples cai bem com lima-da-pérsia, melancia com manjericão, morango *que é ácido mas fica bom demais com vodca).

E as vodcas aromatizadas são um caso aparte. Tem que ir experimentando para descobrir suas misturas ideais.

Pessoalmente, amo a aromatizada com mandarino na caipiroska de lima-da-pérsia; a de baunilha na de furtas vermelhas; e citrus com tangerina e gengibre.

Mas aqui eu falava de dias ácidos, de agressividade contida. E ai a caipirinha d tamarindo é imbatível.

Como a fruta é difícil de ser encontrada, o jeito é usar a popa congelada, que pode ser comprada em sachês no supermercado.

Use um sachê de popa, duas doses de cachaça, açúcar a gosto. Bata vigorosamente numa coqueteleira e jogue sobre pedras de gelo que já esfriaram se copo.

Não há raiva que resista.

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1 sachê de popa de tamarindo congelada já meio derretida

2 doses de cachaça

Açúcar ao adoçante a gosto

Gelo à vontade

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Del livro DUAS BOCAS Histórias de comida e sexo . ( Fugu) Editora nova Fronteira 2011)